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Audiolivro

Projeto Audiolivro – A produção antologias em áudio como ferramenta de inclusão social

RESUMO

O acesso aos espaços, à cultura e ao conteúdo, especialmente os públicos, é um direito dos brasileiros. Ocorre que, historicamente, as soluções, sejam estas arquitetônicas, culturais, educacionais ou sociais, são desenvolvidas com foco nos grandes grupos populacionais e, eventualmente, nem sempre, adaptadas para os grupos menores.

Dessa problemática surge o conceito de acessibilidade, que visa tornar acessível determinado objeto aos seus usuários. Esse conceito tem evoluído, passando pelo acesso aos grupos sociais, dentre estes a própria família, aos espaços públicos e, mais recentemente, para conteúdos culturais e educacionais, dentre estes, os livros. (SASSAKI,
2006; JORDAN, 1998; TORRES, 2004).

Especialmente sobre o público de deficientes visuais, a falta de acessibilidade aos conteúdos educacionais e culturais, mesmo aqueles que são requisitos para vestibulares em universidades públicas, cria uma lacuna em sua formação enquanto ser humano.

Assim, este projeto visa a produção de audiolivros de obras da Literatura Brasileira e Portuguesa que estão em Domínio Público. O conteúdo produzido será disponibilizado em domínio público, para acesso gratuito de qualquer um ao conteúdo. O foco são os deficientes visuais, mas espera-se também que pessoas sem esta deficiência usufruam dos audiolivros, promovendo assim o interesse pela literatura para uma parcela maior da população.

RESULTADOS

Título Autor Fase Literária Áudio Texto Gravado por
Ai flores, ai flores do verde pino Dom Dinis Trovadorismo Cantiga_de_amigo_2.mp3 Cantiga_de_amigo_2.pdf Joana Constantino da Rocha
Ondas do mar de Vigo Martin Codax Trovadorismo Cantiga_de_amigo_1.mp3 Cantiga_de_amigo_1.pdf Joana Constantino da Rocha

 

COLABORADORES

  • Gilberto Speggiorin de Oliveira
  • Joana Constantino da Rocha
  • Luis Henrique Machado
  • Marlon Cordeiro Domenech
  • Matheus Felipe dos Santos Tonial
  • Rodrigo Espinosa Cabral

OBJETIVOS

Geral:

  • Viabilizar o acesso às Literaturas Brasileira e Portuguesa de Domínio Público às pessoas com deficiência visual.

Específicos:

  • Criar um acervo em áudio contendo textos canônicos das Literaturas Brasileira e Portuguesa.
  • Gravar em áudio e disponibilizar gratuitamente obras da Literatura Brasileira e da Literatura Portuguesa, atualmente disponíveis no Domínio Público.

JUSTIFICATIVA

O público-alvo do projeto são pessoas com deficiência visual. Segundo o IBGE, 3,6% dos brasileiros são deficientes visuais. Conforme o censo de 2010, 528.624 brasileiros são incapazes de enxergar, ao passo que há 6.056.654 brasileiros com baixa visão ou visão subnormal, tendo notória dificuldade para enxergar. Trata-se de um público imenso. Equivale à população de países como Paraguai, Dinamarca ou Noruega [INDEXMUNDI, 2017; VILLELA, 2015].

Privadas da visão, estas pessoas têm dificuldade de acesso à literatura. Em Fraiburgo não há livrarias e em nossa região não se encontram publicações em braille nas lojas do ramo. No meio-oeste catarinense são raras as bibliotecas que têm volumes escritos no sistema de leitura e escrita inventado pelo francês Louis Braille no século XIX. Pela Internet, o catálogo de publicações em braile é extremamente reduzido. O website da livraria Saraiva, por exemplo, mostra que há apenas 14 publicações disponíveis (sendo 5 fora de catálogo) [SARAIVA, 2017a].

Além da escassez de obras em braille, a própria linguagem tátil é uma barreira. No Brasil cerca de 400 mil deficientes visuais utilizam a leitura no sistema braille (COSTA, 2009). Geralmente é mais fácil para o deficiente visual ser alfabetizado em braille quando ele é cego de nascença ou quando perde a visão antes de ser alfabetizado. Quando a pessoa perde a visão ao longo da vida, é mais difícil dominar a leitura tátil, conforme explica um artigo no site MOLLA: “a alfabetização no código braile é eficaz quando a pessoa nasce cega e é educada desde cedo” (LIVRO ACESSIVEL, 2017).

Como a maioria dos deficientes visuais vai perdendo a visão ao longo da vida, devido a patologias como diabetes e glaucoma ou acidentes automobilísticos e com armas de fogo, o braille acaba sendo usado por uma minoria (LIVRO ACESSIVEL, 2017). Dessa forma, a literatura mantém suas portas fechadas para esse extenso público.

Impossibilitados de ler, os deficientes visuais poderiam buscar o contato com a ficção nos audiolivros. Entretanto, no website da livraria Saraiva constam somente 545 títulos de audiolivros em língua portuguesa, dos quais apenas 79 pertencem à literatura brasileira [SARAIVA, 2017b]. A título de comparação, a mesma empresa apresenta 21883 livros impressos de literatura brasileira, sem contar os milhares de e-books.

O ambiente adverso piora para o deficiente visual quando considerarmos que a maioria das publicações de literatura brasileira exigidas nos vestibulares encontra-se em domínio público. O estudante capaz de ler tem, a sua disposição, milhares de livros de forma gratuita, inclusive em sites governamentais como o Domínio Público. No entanto, o estudante cego praticamente não tem acesso a este patrimônio cultural. Se quiser ter contato com uma obra clássica, terá de garimpar algum título nas livrarias online e pagar por ele.

Iniciativas como a LIBRIVOX contam com o trabalho de voluntários do mundo inteiro para gravação de audiolivros. Contudo, ao passo que, em maio de 2017, o projeto possuía 21907 títulos em língua inglesa, em língua portuguesa constam apenas 157 obras gravadas por falantes da língua de Camões ao redor do globo. Portanto, constata-se uma abissal defasagem e representatividade.

Este fato configura uma desigualdade de oportunidades para o aluno e para o cidadão deficiente visual. Uma Educação Pública de qualidade deve ter o compromisso de proporcionar equidade entre seus membros. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (BRASIL, 1996), em seu artigo terceiro:

O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.

Quando o sistema priva o aluno deficiente visual de ter acesso às obras do patrimônio cultural de seu país, há uma nítida quebra dos preceitos de igualdade e liberdade propostos pela LDB. Além disso, como tais obras são exigidas em exames de vestibular e no ENEM, torna-se um agravante o fato de o Estado e da iniciativa privada não proporcionarem o acesso desta parcela significativa dos cidadãos ao capital cultural de sua pátria.

Desta forma, é preciso criar mecanismos para que as obras da literatura brasileira, em domínio público, possam ser transformadas em audiolivros. A constituição deste acervo cultural beneficiaria potencialmente a milhares de deficientes visuais.

Além do mais, os audiolivros poderão ser usados também por pessoas sem deficiência. Na portabilidade da sociedade atual, é cada vez mais fácil se deslocar pelo mundo escutando arquivos mp3 em celulares ou tablets. Então, a criação desde banco de dados pode aumentar o contato dos estudantes em geral com a literatura de seu país.

Focando nos educandos diretamente envolvidos com o projeto, é de se supor um salto qualitativo em termos de leitura, entonação, vocabulário e conhecimento das obras clássicas. A cada gravação, o bolsista ou voluntário terá de efetuar leituras preparatórias de reconhecimento e ensaio. Ao gravar os textos canônicos, o aluno teria uma sensação de se apropriar de seu conteúdo, além da satisfação pessoal pelo fato de auxiliar cidadãos que realmente precisariam do trabalho efetuado.

Referências

BRASIL. LEI No 9.394. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 12 de maio de 2017.

COSTA, Renata. Como funciona o sistema Braille? Revista Nova Escola. 2009. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/397/como-funciona-sistema-braille>. Acesso em: 12 de maio de 2017.

INDEXMUNDI. Mapa Comparativo entre Países > População – Mundo. 2017. Disponível em: <http://www.indexmundi.com/map/?l=pt>. Acesso em: 12 de maio de 2017.

JORDAN, Patrick W. An Introduction to usability. London: Taylor & Francis, 1998.

LIVRO ACESSIVEL. Saiba porque a maioria dos cegos nao usa braile. 2017. Disponível em: <http://www.livroacessivel.org/a-maioria-das-pessoas-cegas-nao-le-braile.php>. Acesso em: 12 de maio de 2017.

SARAIVA. Resultados para: livros em braille. 2017a. Disponível em: <http://busca.saraiva.com.br/q/livros-em-braille>. Acesso em: 12 de maio de 2017.

______. Literatura Nacional. 2017b. Disponível em: <http://busca.saraiva.com.br/pages/livros/audiolivro/literatura-nacional?f=%7B%22idioma%22%3A%5B%22Portugu%C3%AAs%22%5D%7D>. Acesso em: 12 de maio de 2017.

SASSAKI, Romeu Kazumi. O Conceito de Acessibilidade. 2006. Disponível em: <http://www.bengalalegal.com/romeusassaki>. Acesso em: 12 de maio de 2017.

TORRES, Elisabeth Fatima; MAZZONI, Alberto Angel. Conteúdos digitais multimídia: o foco na usabilidade e acessibilidade. Ci. Inf., Brasília, v. 33, n. 2, p. 152-160, 2004.

VILLELA, Flavia. IBGE: 6,2% da população têm algum tipo de deficiência. 2015. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/2015/08/ibge-62-da-populacao-tem-algum-tipo-de-deficiencia>. Acesso em: 12 de maio de 2017.